Educação integral: conceito, características e objetivo

Abordagem propõe que a educação deve garantir o desenvolvimento pleno dos estudantes em todas as suas dimensões: intelectual, física, emocional, social e cultural

O compromisso com a educação integral é um dos fundamentos pedagógicos da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). O documento, que define as aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver, reconhece que a Educação Básica deve visar à formação e ao desenvolvimento humano global. Isso implica “compreender a complexidade e a não linearidade desse desenvolvimento, rompendo com visões reducionistas que privilegiam ou a dimensão intelectual (cognitiva) ou a dimensão afetiva”.

Neste post, vamos explorar alguns aspectos importantes para compreender esse conceito. Definindo o que é educação integral, explicando como essa abordagem surgiu, qual é sua importância e o que ela propõe. Trataremos também de seus princípios e características e do que considerar para implementá-la na escola.

O que é educação integral?

A educação integral é “uma concepção que compreende que a educação deve garantir o desenvolvimento dos sujeitos em todas as suas dimensões –intelectual, física, emocional, social e cultural — e se constituir como projeto coletivo, compartilhado por crianças, jovens, famílias, educadores, gestores e comunidades locais”.

Essa é a definição do Centro de Referências em Educação Integral, iniciativa de organizações governamentais e não governamentais, que promove a pesquisa, o desenvolvimento, o aprimoramento e a difusão de estratégias e instrumentais relacionadas a essa agenda no Brasil. Segundo a cartilha “O que é Educação Integral – Currículo e Educação Integral na prática: uma referência para estados e municípios”, são características da Educação Integral:

  • contemporaneidade: alinhada às demandas do século XXI, tem como foco a formação de sujeitos críticos, autônomos e responsáveis consigo mesmos e com o mundo;
  • inclusão: reconhece a singularidade dos sujeitos, suas múltiplas identidades e se centra na construção do projeto educativo para todos e todas;
  • sustentabilidade: compromete-se com processos educativos contextualizados, sustentáveis no tempo e no espaço, com a integração permanente entre o que se aprende e o que se pratica;
  • equidade: afirma o direito de todos e todas de aprender e acessar oportunidades educativas diferenciadas e diversificadas (a partir da interação com múltiplas linguagens, recursos, espaços, saberes e agentes) para o enfrentamento das desigualdades educacionais.

Educação integral e BNCC

Segundo a Base, o compromisso com a Educação Integral significa assumir uma visão plural, singular e integral do estudante, considerando-o como sujeito da aprendizagem. Diz respeito também a promover uma educação voltada ao seu acolhimento, reconhecimento e desenvolvimento pleno, nas suas singularidades e diversidades.

Assim, os processos educativos devem promover aprendizagens sintonizadas com as necessidades, as possibilidades e os interesses dos estudantes e, também, com os desafios da sociedade contemporânea. Nesse sentido, a BNCC propõe:

  • a superação da fragmentação radicalmente disciplinar do conhecimento;
  • o estímulo à sua aplicação na vida real;
  • a importância do contexto para dar sentido ao que se aprende; e
  • o protagonismo do estudante em sua aprendizagem e na construção de seu projeto de vida.

Como surgiu o conceito de educação integral?

O conceito de educação integral tem suas raízes em várias correntes filosóficas e pedagógicas ao longo da história. Na Antiguidade Clássica, os filósofos gregos já defendiam a educação como um meio de desenvolver todos os aspectos do ser humano. A Academia de Platão, por exemplo, se preocupava em cultivar o corpo e a alma como parte das atividades acadêmicas. Aristóteles, por sua vez, enfatizava em suas obras a importância do equilíbrio entre a formação intelectual, física e moral.

Na contemporaneidade, entre os séculos XIX e XX, a educação integral ganhou força. Educadores como Johann Heinrich Pestalozzi, Friedrich Froebel e Maria Montessori desenvolveram métodos que valorizavam o aprendizado por meio da experiência e da interação social. O filósofo e educador americano John Dewey acreditava no desenvolvimento das capacidades intelectuais, sociais e emocionais dos indivíduos.

Educação integral no Brasil

No país, Anísio Teixeira, um dos fundadores da Escola Nova, defendeu a inclusão de atividades práticas no programa curricular, tornando a escola parte da comunidade e conectada à vida. Já Paulo Freire enfatizou a importância do diálogo, da cultura e da realidade dos estudantes no processo educativo.

Na década de 1980, inspirado no projeto das escolas-parque de Teixeira, Darcy Ribeiro idealizou os Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs) no estado do Rio de Janeiro. O objetivo era proporcionar educação, esporte, cultura, assistência social, segurança alimentar e saúde aos estudantes.

O tema voltou novamente ao debate nacional em 2001, com a proposta dos Centros Educacionais Unificados (CEUs) na cidade de São Paulo, que também integravam educação, esporte e cultura, com forte articulação com a comunidade e gestão democrática e participativa.

Em 2007, o Programa Mais Educação propôs o fortalecimento da educação integral, ao ampliar a jornada escolar, diversificar as atividades letivas e estabelecer parcerias com agentes externos para a oferta de atividades educativas. Dez anos depois, a BNCC expressou o compromisso do Estado Brasileiro com a promoção da educação integral.

Qual a importância de uma educação integral?

A educação integral é fundamental para o desenvolvimento pleno dos estudantes, pois, além da aprendizagem cognitiva, considera também aspectos socioemocionais. Ao integrar esses diversos âmbitos, ela prepara os estudantes para os desafios do mundo real, formando cidadãos autônomos, responsáveis e capazes de contribuir positivamente para a sociedade.

Segundo o Centro de Referências em Educação Integral, “ao posicionar o estudante e seu desenvolvimento no centro do processo educativo, reconhecendo-o como sujeito social, histórico, competente e multidimensional, a Educação Integral tem contribuído para reconectar o sentido da escola e da educação com sua vida”.

Conheça outros benefícios da educação integral:

  • inclusão e equidade: a abordagem integral valoriza a diversidade e promove a inclusão. Ela busca atender às necessidades de todos os estudantes, independentemente de suas origens socioeconômicas ou culturais.
  • desenvolvimento socioemocional: a educação integral enfatiza o desenvolvimento de competências como resiliência, autocontrole emocional e colaboração. Ela também favorece a capacidade de resolver problemas, trabalhar em equipe, comunicar-se efetivamente e estabelecer relações interpessoais saudáveis.
  • engajamento comunitário: essa metodologia costuma envolver famílias, educadores, gestores e comunidades locais no processo educativo, o que fortalece os vínculos comunitários e promove um senso de pertencimento e responsabilidade coletiva.
  • cidadania ativa: uma educação que desenvolve todas as dimensões do indivíduo prepara os estudantes para serem cidadãos empáticos, ativos e conscientes, capazes de participar de maneira crítica e construtiva na sociedade. Isso inclui a capacidade de compreender e agir sobre questões sociais, políticas e ambientais.
  • valorização da diversidade cultural: a educação integral reconhece e valoriza as diversas culturas e identidades dos estudantes, o que promove um ambiente de respeito mútuo e entendimento, enriquecendo a experiência educativa.
  • saúde e bem-estar: a ênfase no desenvolvimento físico e emocional contribui para a saúde e o bem-estar geral dos estudantes. Atividades físicas, práticas de autocuidado e suporte emocional são partes importantes do processo.
professora ouvindo alunos em sala de aula

Quais são os princípios da educação integral?

O Centro de Referências em Educação Integral também estabelece os princípios inalienáveis dessa abordagem. Entre eles estão:

Centralidade dos estudantes

Uma proposta de educação integral contempla a singularidade de cada aluno na construção do seu percurso formativo. Para isso, é necessário que os educadores tenham um amplo conhecimento das metodologias de ensino e dos recursos que podem ser colocados em prática a partir das necessidades e dos interesses dos estudantes e dos objetivos de aprendizagem.

Perspectiva inclusiva

As propostas de educação integral devem respeitar todas as diversidades relacionadas a deficiências, origem étnico-racial, condição econômica, origem geográfica, orientação sexual, religiosa ou qualquer outro fator. É necessário reconhecer e abolir barreiras arquitetônicas, políticas, culturais e atitudinais para que todos os espaços sejam inclusivos.

Gestão democrática

Nas escolas, a gestão democrática está garantida por lei e prevê que o Projeto Político Pedagógico seja construído e acompanhado com a participação ativa da comunidade (alunos, educadores e famílias). É fundamental que exista um diálogo permanente e que o acompanhamento das ações e resultados seja feito coletivamente por todos e todas.

Ampliação do período escolar

O tempo de quatro horas diárias que caracteriza a média da jornada escolar brasileira se mostra insuficiente para o desenvolvimento integral dos estudantes. Especialistas defendem a ampliação da jornada para um período entre sete e nove horas diárias. Porém, enquanto isso não é concretizado, esse tempo pode ser preenchido com atividades extracurriculares e projetos.

“Quanto mais complexas, diversificadas e qualificadas forem as interações a que um indivíduo tem acesso, mais rico será seu universo social e cultural, as conexões que ele será capaz de estabelecer e as suas possibilidades de inserção e intervenção social”, aponta o Centro de Referências em Educação Integral.

Ambiência

Um ditado popular diz que “para educar uma criança é preciso uma aldeia inteira”. Garantir as aprendizagens e o desenvolvimento previstos em um projeto de Educação Integral demanda a construção de um ambiente fértil para a troca, a construção coletiva de conhecimentos, a criatividade, a participação, o diálogo e a coesão social. Espaços educativos tradicionais, como a sala de aula, deixam de ser considerados como os únicos espaços de aprendizagem.

Qual a diferença entre educação integral e educação em tempo integral?

Como vimos, a educação integral trata do desenvolvimento pleno dos estudantes, considerando as dimensões intelectual, física, emocional, social e cultural. Já a educação em tempo integral refere-se à permanência dos alunos na escola por períodos mais longos, que podem variar de 7 a 9 horas por dia.

Essa prática, apesar de não se confundir com a educação integral pode favorecê-la ou viabilizá-la, ao oferecer mais tempo e oportunidades de convívio, interação e trocas de experiências para os alunos. Segundo o Observatório do Movimento pela Base, concretizar a educação integral requer um esforço coletivo, além do tempo de permanência.

É necessário que todos os elementos do sistema educacional estejam alinhados, desde políticas públicas até práticas pedagógicas, gestão escolar, materiais didáticos e formações de professores. Somente com um compromisso intencional em promover o desenvolvimento integral, será possível garantir uma implementação efetiva da educação integral em nosso sistema educacional”, explica a entidade.

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