Desenvolver a capacidade de tomar decisões e de agir com maior liberdade contribui para formar adultos capazes de resolver problemas e de enfrentar desafios
A autonomia é a capacidade de tomar decisões e de agir com maior liberdade. Quando se trata da autonomia infantil, fazer escolhas e realizar ações por conta própria são competências fundamentais para o desenvolvimento saudável das crianças, para que elas cresçam autoconfiantes, com responsabilidade e capazes de resolver problemas e enfrentar desafios.
A autonomia é uma prioridade do Programa Socioemocional Líder em Mim, abordada nas aulas diretas do programa, com foco no desenvolvimento integral dos alunos. Assim desejamos também oferecer subsídios para o desenvolvimento de adultos envolvidos neste processo. Neste post, para contribuir com este aprendizado contínuo dos envolvidos neste processo, vamos abordar a importância da autonomia, os benefícios de incentivar a autonomia infantil, as estratégias para desenvolver essa habilidade nas crianças e o papel da família e da escola nesse contexto.
Importa destacar que em uma escola Líder em Mim é desenvolvido um plano de aprendizagem profissional da equipe, e busca-se uma melhoria contínua com foco específico em conteúdos relacionados a estratégias de ensino e aprendizagem de competências socioemocionais e desenvolvimento socioemocional das pessoas.
O que é autonomia e autonomia infantil?
Podemos definir autonomia como a capacidade de tomar decisões e agir sem depender de outras pessoas. Já a autonomia infantil se refere à capacidade das crianças de fazerem escolhas por conta própria e realizarem tarefas mais livremente, de acordo com a sua idade e nível de desenvolvimento.
A autonomia está relacionada ao desenvolvimento de habilidades socioemocionais, como a autogestão, que inclui determinação, organização, foco, persistência e responsabilidade. Ou seja, ser capaz de se esforçar para conseguir aquilo que deseja, concentrar-se no que precisa realizar, persistir frente aos desafios, comprometer-se com responsabilidade e se organizar para gerenciar tarefas e objetivos do cotidiano e da própria vida.
Essas habilidades podem e devem ser estimuladas nas crianças, pelas famílias e pela escola. Mas é preciso ter em mente que se trata de um processo contínuo e gradual, que deve ser feito com supervisão e orientação, respeitando as suas possibilidades.
Importância de desenvolver a autonomia nas crianças
A primeira infância, que vai desde o nascimento até os 6 anos de idade, é um período-chave para o desenvolvimento de diversas habilidades nas crianças. Segundo um estudo do Comitê Científico do Núcleo Ciência Pela Infância (NCPI), entre essas habilidades estão as relacionadas com as funções executivas, que são fundamentais para gerenciar os diferentes aspectos da vida com autonomia.
“Ter autonomia significa não apenas possuir independência, mas também estar inserido na sociedade, assumir consequências por decisões tomadas e possuir responsabilidade”, aponta o documento.
As funções executivas constituem um conjunto de habilidades que possibilitam refletir antes de agir, trabalhar diferentes ideias mentalmente, solucionar desafios, pensar sob diferentes ângulos e reconsiderar opiniões. Elas são fundamentais para tomar decisões, viver e pensar com autonomia.
O desenvolvimento dessas habilidades é fortemente influenciado pela qualidade e quantidade de experiências que as crianças podem ter e pelas relações e vínculos estabelecidos com seus cuidadores, familiares, pares e educadores. Assim, é essencial construir um ambiente favorável ao desenvolvimento pleno da autonomia infantil, tanto em casa quanto na escola.
Veja também:
- Aprendizagem emocional: fator essencial na educação das crianças
- Estudo mostra como as competências socioemocionais potencializam o desempenho acadêmico dos alunos
Como ajudar uma criança a ter autonomia?
Para que os pequenos possam exercer sua autonomia, é preciso que estejam preparados para isso. Algumas habilidades precisam ser desenvolvidas para que consigam progredir na realização de tarefas, como:
Trabalhar a coordenação motora
Permite que a criança execute tarefas diárias com mais precisão e independência. Práticas que desenvolvem habilidades motoras finas e grossas, como desenhar, amarrar os sapatos ou andar de bicicleta, aumentam a capacidade de cuidar de si mesmo e de se envolver ativamente em diversas atividades.
Desenvolver a comunicação
Conversar com a criança e pedir sua opinião melhoram sua capacidade de expressar necessidades, desejos e ideias. Isso facilita a interação social e permite que participe ativamente de seu ambiente e desenvolva confiança em suas habilidades para lidar com as diversas situações que possam surgir.
Envolvê-la em pequenas decisões
Permitir que a criança escolha a roupa que vai vestir, o lanche da escola ou o passeio de final de semana – sempre com as orientações e mediações do adulto responsável – desenvolve o sentimento de pertencimento e a participação nas decisões da família, além da autoestima.
Incentivar a resolução de problemas ligados ao seu cotidiano
Estimular que encontre soluções para solucionar questões que surgem no dia a dia também é uma forma de desenvolver a autonomia. Deixe que a criança tenha iniciativa em situações como briga com um colega ou uma nota baixa no trabalho escolar. Acompanhe o desenrolar da situação e ofereça apoio e orientação, se necessário.
Aprender a lidar com as frustrações
Além de prepará-las para as adversidades da vida adulta, ajuda a desenvolver a resiliência, a capacidade de adaptação e as habilidades de resolução de problemas, ajudando-as a crescer emocionalmente saudáveis.
Por fim, rotinas e regras claras em casa e na escola auxiliamas crianças a entenderem o que se espera delas e a desenvolverem sua autogestão.
Benefícios em estimular a autonomia infantil
São várias as vantagens em estimular a autonomia das crianças. Algumas das principais são:
- Desenvolvimento da autoestima: quando as crianças são incentivadas a agir por conta própria, elas desenvolvem uma sensação de competência e autoconfiança. Isso as ajuda a acreditar em suas capacidades e a se sentirem mais seguras e encorajadas em suas ações.
- Promoção da responsabilidade: ao permitir que as crianças lidem com as consequências de suas escolhas, elas aprendem a importância da responsabilidade. Isso as prepara para enfrentar os desafios da vida adulta com mais resiliência.
- Estímulo ao pensamento crítico: a autonomia permite que as crianças explorem diferentes opções e avaliem as consequências de suas ações, estimulando o pensamento crítico e a capacidade de tomar decisões de forma consciente.
- Incentivo à criatividade: permitir que as crianças explorem livremente suas ideias, tomem decisões e experimentem soluções próprias são estímulos ao pensamento criativo.
- Maior capacidade de resolver problemas: ao serem encorajadas a enfrentar desafios e agir com independência, elas crescem com maior resiliência e capacidade de solucionar problemas.
Como incentivar a autonomia das crianças em casa
É importante que os adultos deleguem às crianças algumas tarefas e as ajudem a realizá-las, de acordo com suas possibilidades. Ao fazer isso, eles demonstram que confiam na criança e que ela é capaz de dar conta daquela demanda.
Essa prática é fundamental para o desenvolvimento da autonomia, além de ensinar a gerenciar alguns aspectos do cotidiano. As responsabilidades assumidas podem ir aumentando progressivamente conforme o crescimento da criança.
Atividades para estimular a autonomia das crianças, de acordo com a idade
Confira algumas sugestões de tarefas que podem ser propostas às crianças, de acordo com a faixa etária, para promover a responsabilidade e a cooperação dos pequenos.
2 a 4 anos:
- guardar os brinquedos após brincar
- colocar roupas sujas no cesto
- escolher a roupa que vai vestir
- cuidar da higiene pessoal (lavar o rosto e as mãos, escovar os dentes, aprender a tomar banho sozinha)
- aprender a se vestir e a calçar os sapatos sozinha
5 a 7 anos:
- ajudar a arrumar e a tirar a mesa
- ajudar a arrumar a cama
- escovar os dentes sem ajuda
- guardar as roupas limpas no armário
- regar plantas
8 a 10 anos:
- preparar lanches simples
- ajudar a preparar refeições
- arrumar a cama diariamente
- cuidar de um animal de estimação
- ajudar na limpeza da casa
11 e 12 anos:
- preparar refeições simples, como o café da manhã
- cuidar da limpeza e organização do próprio quarto
- ajudar os irmãos mais novos na lição de casa ou em outros cuidados
O papel da escola no desenvolvimento da autonomia infantil
Assim como a família, a escola tem um papel crucial no desenvolvimento da autonomia das crianças. Para isso, ela também deve proporcionar um ambiente estimulante e seguro que incentive a independência e a autoconfiança das crianças e o desenvolvimento de competências socioemocionais, como a determinação, a capacidade de resolver problemas e a tolerância à frustração. Assim, elas poderão expressar seus sentimentos e aprender a lidar com frustrações e desafios emocionais, fortalecendo a resiliência e a autoconfiança.
Ensinar habilidades de planejamento e organização, como o gerenciamento do tempo e a organização de tarefas escolares, e trabalhar com metodologias ativas, que colocam o aluno no centro do processo de ensino e aprendizagem e estimulam a participação nas aulas e o engajamento, também são fundamentais para promover a autonomia.
Atividades para estimular a autonomia das crianças na escola
Veja alguns exemplos de atividades que os educadores podem solicitar às crianças para o desenvolvimento progressivo da sua autonomia:
Educação Infantil:
- cuidar de seus pertences, como mochila, lancheira, cadernos e lápis
- ajudar na organização da sala após atividades
- auxiliar na distribuição e no recolhimento de folhas, livros e outros materiais para atividades em classe
- lavar as mãos antes do lanche
- guardar materiais de trabalho e brinquedos
Anos Iniciais do Ensino Fundamental:
- ajudar colegas com dificuldades em tarefas específicas
- participar da organização de eventos escolares
- auxiliar na organização da biblioteca
- desenvolver estratégias individuais de estudo com a ajuda do professor
- participar da definição de seu papel nas atividades que envolvem trabalhos em grupo
Autonomia infantil e BNCC
Segundo a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o ingresso das crianças na creche ou na pré-escola significa, na maioria das vezes, a primeira separação de seu ambiente familiar para vivenciarem uma situação de socialização estruturada.
Nesse contexto, as escolas de educação infantil devem ampliar o universo de vivências, conhecimentos e habilidades das crianças, diversificando e consolidando novas aprendizagens, como a socialização, a autonomia e a comunicação.
Nos campos de experiência da Educação Infantil, por exemplo, que indicam as vivências fundamentais para que a criança aprenda e se desenvolva, o desenvolvimento da autonomia é uma perspectiva presente.
No campo “O eu, o outro e o nós”, o documento enuncia que “é na interação com os pares e com adultos que as crianças vão constituindo um modo próprio de agir, sentir e pensar e vão descobrindo que existem outros modos de vida, pessoas diferentes, com outros pontos de vista”. Nesse contexto, ao mesmo tempo que participam de relações sociais e de cuidados pessoais, as crianças constroem sua autonomia e senso de autocuidado, de reciprocidade e de interdependência com o meio.
Já no campo “Corpo, gestos e movimentos”, uma das aprendizagens previstas é “apresentar autonomia nas práticas de higiene, alimentação, vestir-se e no cuidado com seu bem-estar, valorizando o próprio corpo”.
Conclusão
A escola e a família desempenham papel fundamental no desenvolvimento da autonomia infantil. Cabem a elas criar ambientes que estimulem a independência e a autoconfiança das crianças para que elas possam, progressivamente, enfrentar novos desafios, sempre com apoio e orientação.
Incorporar tarefas adequadas à idade das crianças e ao seu nível de desenvolvimento e trabalhar as competências socioemocionais, tanto em casa quanto no espaço escolar, são formas de promover a autonomia infantil. Essas práticas ajudam no desenvolvimento de habilidades necessárias para a gestão do dia a dia, além de fortalecerem a autoestima, a capacidade de resolver problemas, a resiliência e tolerância à frustração, contribuindo para a formação de adultos autônomos e responsáveis.