Novo relatório da OCDE aponta que habilidades relacionadas a desempenho de tarefas, abertura ao novo e criatividade são as que mais impactam o sucesso escolar
Um novo estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), lançado em abril deste ano, evidenciou como as competências socioemocionais podem contribuir para o sucesso acadêmico dos estudantes. A pesquisa “Social and Emotional Skills for Better Lives” (Competências socioemocionais para uma vida melhor) foi realizada em 2023 e contou com a participação de estudantes de 10 e 15 anos de 15 nações — entre elas, o Brasil, que participou pela primeira vez, representado pela cidade de Sobral (CE). No país, a OCDE contou com a parceria das secretarias de educação de Sobral e do Ceará, do Instituto Ayrton Senna e da Fundação Cesgranrio.
Os alunos participantes preencheram um questionário em que indicavam o quanto concordavam ou discordavam de uma série de afirmações — por exemplo, “Continuo trabalhando em uma tarefa até que ela termine” e “Mantenho a calma mesmo em situações tensas”. O objetivo foi avaliar a relevância das competências socioemocionais na vida desses jovens – no desempenho acadêmico, na saúde e bem-estar — e examinar fatores que promovem ou dificultam seu desenvolvimento.
No estudo, foram considerados os seguintes grupos de competências:
- Desempenho de tarefas: persistência, responsabilidade, autocontrole e determinação
- Regulação emocional: resistência ao estresse, controle emocional e otimismo
- Engajamento com os outros: assertividade, sociabilidade e entusiasmo
- Abertura ao novo: curiosidade, criatividade e tolerância
- Colaboração: empatia e confiança.
Determinação, persistência e curiosidade
Em relação ao desempenho acadêmico, a pesquisa mostrou que quase todas as competências socioemocionais podem ajudar os estudantes a alcançarem melhores resultados em matemática, leitura e artes, mas três delas têm maior influência:
- Determinação: que diz respeito à definição de metas e padrões elevados para si mesmo e ao empenho em alcançá-los.
- Persistência: capacidade de perseverar em tarefas e atividades até que sejam concluídas.
- Curiosidade: interesse em conhecer novas ideias e apreço por desafios intelectuais, pela aprendizagem e pelo conhecimento.
Determinação e persistência, habilidades relacionadas a desempenho de tarefas e curiosidade, relacionada a abertura ao novo, foram as mais fortemente associadas a notas mais altas em todas as três disciplinas, bem como a níveis mais baixos de faltas e atrasos nas aulas. Segundo o relatório, “alunos com elevada capacidade de desempenho de tarefas perseveram quando confrontados com obstáculos, cumprem seus compromissos e evitam distrações.
Já estudantes curiosos “são mais propensos a persistir diante dos desafios porque sua motivação intrínseca para compreender e descobrir os mantém engajados e focados em seu aprendizado”. Portanto, cultivar essas competências nos estudantes pode ser uma ferramenta para os sistemas educacionais melhorarem os resultados escolares dos estudantes.
Além de melhores notas, estudantes com níveis mais elevados de habilidades relacionadas a desempenho de tarefas e abertura ao novo são também mais ambiciosos em relação à sua educação e carreira futuras. O mesmo ocorre com a curiosidade. Jovens com essa competência têm maior probabilidade de concluir o ensino superior e ingressar no mundo profissional.
Essas conclusões estão alinhadas aos resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) de 2022, que mostrou que os alunos com níveis mais elevados de curiosidade e persistência obtiveram cerca de 11 pontos a mais, em média, em matemática do que os seus pares.
Persistência e melhoria contínua
Melhoria contínua, uma das 16 competências do Programa Líder em Mim, está alinhada à habilidade de persistência, que aparece com destaque no relatório da OCDE. “Ao trabalhar a melhoria contínua, o estudante é estimulado a desenvolver o compromisso de ser um eterno aprendiz, constantemente procurando novos conhecimentos e habilidades”, afirma Fabiana Santana, assessora pedagógica do LEM. “Assim, ele consegue se superar regularmente e se renovar mental, física, social e emocionalmente, por meio da curiosidade e da perseverança.”
Ela explica que essa competência é estimulada desde as séries iniciais do Ensino Fundamental, mas são nos anos finais do Fundamental e no Ensino Médio — faixa etária dos estudantes avaliados na pesquisa — que ela ganha maior foco. A assessora diz que, na velocidade com que as inovações acontecem, e as cobranças sociais ganham novas dimensões a cada dia, é preciso levar em consideração as necessidades dessa faixa etária e criar condições para que se sintam em um ambiente seguro que valide tanto as suas conquistas quanto os incentive a prosseguir diante de eventuais fracassos. “Ser intencional nas ações e intervenções nesse processo pode ser um diferencial na forma ajudá-los a lidar com cada um dos desafios que virão nessa fase da adolescência”.
O papel de outras competências socioemocionais
Além de determinação, persistência e curiosidade, o relatório evidenciou também os impactos de outras habilidades socioemocionais na performance acadêmica dos alunos:
- estudantes com maior controle emocional e otimismo tendem a ter melhores notas, o que mostra como a falta de bem-estar e problemas de saúde mental podem ser uma barreira à aprendizagem;
- alunos que relatam maior tolerância, empatia e confiança também tendem a conseguir melhores resultados acadêmicos, pois estão abertos a diferentes pontos de vista e valores, tentam compreender as outras pessoas e se preocupam com elas e presumem que os outros têm boas intenções;
- jovens que têm níveis mais elevados de assertividade – que, em geral, costumam expressar suas opiniões com confiança e assumem a liderança – também obtêm melhor desempenho escolar;
Resultados de Sobral
No Brasil, na cidade de Sobral (CE), os estudantes de 15 anos com as melhores notas em matemática, leitura e artes tinham níveis mais elevados dos seguintes grupos ou competências socioemocionais: desempenho de tarefas, abertura ao novo, colaboração e otimismo. Os alunos que relataram níveis mais elevados de entusiasmo se sobressaíram em matemática e em artes, enquanto os que registraram índices maiores de assertividade se destacaram em matemática e leitura.
Os dados também permitiram estabelecer conexões entre o desenvolvimento socioemocional e perspectivas de carreira: 97% dos adolescentes esperam concluir o ensino superior (contra a média geral de 84%) e 60% têm a expectativa de conseguir um cargo gerencial aos 30 anos (contra a média geral de 57%). “Apoiar o desenvolvimento das competências socioemocionais na sala de aula é relevante não apenas para o aprendizado, desempenho escolar e para que os estudantes se mantenham na escola, mas para além do contexto educativo, já que influencia positivamente a vida dos estudantes como um todo”, afirma o documento.