Desenvolvimento socioemocional para a equipe escolar

A saúde mental é o principal problema enfrentado pelos professores, de acordo com uma pesquisa lançada pela Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro). Os dados apresentados demonstram a necessidade de desenvolver habilidades emocionais não só nos estudantes, mas também nos funcionários que fazem a instituição funcionar.

Marco Antonio Ferraz, educador especializado em desenvolvimento socioemocional, afirmou em uma entrevista à Revista Educação que a maneira mais correta de mudar o comportamento de um aluno é ser um modelo, ou seja, se a instituição de ensino quiser ajudar os alunos a lidar com suas próprias emoções, primeiro precisa auxiliar os educadores a desenvolvê-las.

“É como no avião: quando as máscaras vão cair, a primeira instrução é colocar primeiro em você e depois na criança”, diz Marco. De acordo com ele, os educadores atualmente sofrem tanto quanto os alunos e profissionais de outras áreas. “Sofremos questões de ordem emocional, ideológica, política, financeira, mundial e de saúde pública”.

Uma das questões que pode ser citada é a violência escolar. Um estudo realizado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) apontou que o índice de violência contra professores aumentou nos últimos anos. Em 2014, 44% dos professores relataram que já tinham sofrido algum tipo de violência no ambiente de ensino. Em 2017, essa porcentagem subiu para 51%, depois para 54% em 2019.

Como trabalhar o desenvolvimento socioemocional dos professores?

Marco Antônio afirma que, em um primeiro momento, é preciso entender que as chamadas soft skills ou competências socioemocionais são aprendidas e desenvolvidas ao longo da vida. “Não é um avatar que vem do céu e cai sobre mim, nem é um dom, é uma coisa que eu aprendo como aprendo línguas. Claro que com as línguas existem coisas que são mais fáceis para alguns e mais difíceis para outros, mas dá para aprender e desenvolver e se é possível, vamos estudar”.

Um estudo desenvolvido pelo Insper afirmou que o processo educacional envolve emoções o tempo todo. Os estudantes raramente se desenvolvem e aprendem de uma forma isolada e autônoma: eles precisam do relacionamento com os professores e entre os colegas. Além disso, precisam de disciplina e capacidade regulatória para manter a atenção no aprendizado, bem como preparo emocional para lidar com frustrações e expectativas quebradas.

“O professor, enquanto mediador, não pode ficar distante desse intenso processo socioemocional”, comentam os pesquisadores. “Não parece haver dúvida de que um professor precisa de um amplo leque de competências socioemocionais para ser eficaz na promoção do desenvolvimento e aprendizado de seus alunos”.

De acordo com Marco, o gestor deve proporcionar um programa socioemocional de qualidade para seus funcionários, para os educadores e para ele próprio também. Afinal, todas as partes envolvidas nesse processo precisam entender as nuances e particularidades dos estudos relacionados às emoções.

O novo papel social da escola

As instituições devem se preocupar com mais coisas além das matérias e provas. De acordo com Marco Antonio, a escola passou a ter uma demanda diferente para os seus educadores para além do que simplesmente transmitir conhecimento. “Temos necessidade de acolhimento, pertencimento, escuta e um papel social de formação de profissionais, um papel de ser quase um núcleo social para a comunidade na qual estamos inseridos”.

Ele afirma que existe todo um redimensionamento da escola quando essas questões passam a ser levadas em consideração. A equipe escolar cumpre tanto o papel de educadores quanto o de estudantes dessas competências. “Ao mesmo tempo que somos agentes de todas essas transformações, somos pacientes de todas essas mazelas, demandas e necessidades que existem na sociedade”, diz Marco.

O desenvolvimento socioemocional dos educadores e dos pais é necessário para uma educação de qualidade. “Não é só promover e ir para casa, é sentar lá junto e escutar também, porque tem muita coisa para a gente aprender”, afirma Ferraz. “Precisamos também sair da zona de conforto. A sociedade hoje nos pede isso. Oportunidades e caminhos existem”.

Instituição de ensino como núcleo humanizador da sociedade

O especialista ressalta que a gestão escolar precisa ser mais humanizada. “Se você pretende gerir pessoas, a primeira consciência que precisa ter é que as pessoas te percebem, a princípio, pela emoção e não pela razão. Isso é uma característica do ser humano selecionada durante milhões de anos por uma questão de necessidade de sobrevivência”.

Marco explica: “Eu não podia usar razão na hora que eu visse um leão. Parar e dizer ‘olha, eu acho que pelo perfil isso é um leão e eu acho que ele está com fome e vai me atacar’. Não. Eu bati o olho, vi uma imagem de leão, ou eu ataco ou corro. A emoção é o meu primeiro estímulo e isso não foi apagado”.

Além disso, ele diz que a escola não é uma loja ou uma fábrica, mas sim que os gestores estão lidando com pessoas. Se eles não estiverem preparados para trabalhar com as emoções, não será possível ensinar da maneira correta. “A demanda social maior da escola hoje é ser um núcleo de humanização”, declara. “Se você parar para pensar, não existe outra instituição na nossa sociedade com essa capacidade. A igreja, o clube e a rua não são mais, o condomínio também deixou de ser”. Por isso, as instituições precisam assumir esse compromisso.

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