Essa habilidade está relacionada à capacidade de pensar de forma flexível, abandonar padrões convencionais e considerar diferentes perspectivas e abordagens
A criatividade é frequentemente associada a um talento pessoal e a atividades artísticas, como a pintura de um quadro, a composição de uma música ou a escrita de uma peça de teatro. Porém, essa habilidade, que pode ser desenvolvida e estimulada, vai muito além do campo das artes, impactando diretamente em diversos aspectos da vida escolar, profissional e pessoal.
A capacidade criativa amplia a imaginação, permite a inovação e estimula o pensamento crítico e a busca de solução para problemas, favorecendo a aprendizagem. Por isso, é importante incentivá-la desde a infância.
Pensando nisso, neste texto vamos explorar o conceito de criatividade e como é possível desenvolver e incentivar o pensamento criativo desde os primeiros anos de vida. Vamos explicar sua importância e oferecer dicas práticas para trabalhá-la na escola e para promover um ambiente criativo.
O que é criatividade?
Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o pensamento criativo é “a competência para se engajar produtivamente na geração, avaliação e aprimoramento de ideias que possam resultar em soluções originais e eficazes, avanços no conhecimento e expressões impactantes de imaginação”.
Essa competência não é uma habilidade inata aos seres humanos e pode ser aprimorada ao longo da vida. Segundo os autores do livro “The Innovator’s DNA” (O DNA do Inovador), que entrevistaram CEOs de grandes empresas para escrever a obra, a capacidade criativa pode ser exercitada por meio de observações, questionamentos e experimentações.
A criatividade pode ser classificada pela teoria dos 4Cs, que hierarquiza as manifestações criativas em quatro níveis de complexidade:
- Mini-C: o primeiro nível está presente durante o processo inicial de desenvolvimento individual. Nele, a criatividade envolve novas percepções que uma pessoa adquire a partir de suas experiências. Por exemplo, quando uma criança descobre uma nova maneira de combinar cores em um desenho.
- Pequeno-C: refere-se à criatividade cotidiana, que pode ser observada nas atividades diárias. Por exemplo, uma pessoa que encontra uma maneira de organizar seu espaço de trabalho ou uma criança que inventa um jogo com regras próprias.
- Pro-C: ela é encontrada em indivíduos que trabalham em um campo específico e desenvolveram um alto nível de competência, como um designer que cria um produto original ou um cientista que desenvolve uma nova teoria.
- Grande-C: é o nível mais alto de criatividade, representando inovações que mudam paradigmas e têm impacto global ou duradouro. Exemplos incluem as criações de figuras históricas como Leonardo da Vinci e Albert Einstein.
Qual a importância de desenvolver a criatividade na infância?
Donald Woods Winnicott, pediatra e psicanalista inglês do século XX, afirmava que a criatividade é o que dá sentido à vida humana. Segundo ele, o exercício dessa habilidade em crianças é o fundamento da existência saudável e pode até mesmo prevenir ou melhorar adoecimentos emocionais nos primeiros anos de vida.
Desenvolver a criatividade na infância gera inúmeros benefícios a longo prazo, como:
- Capacidade de resolução de problemas: os pequenos aprendem a ver os desafios sob diferentes perspectivas e a pensar em soluções inovadoras, o que fortalece suas habilidades de raciocínio lógico e análise crítica.
- Autoconfiança: as crianças se sentem mais seguras para expressar suas ideias e sentimentos, o que contribui para uma autoestima saudável.
- Inteligência emocional: a criatividade oferece um canal para a expressão emocional e pode ser uma ferramenta para compreender e lidar com sentimentos difíceis.
- Aprendizado ao longo da vida: crianças criativas tendem a ser curiosas e motivadas a explorar novos conhecimentos, o que estimula o lifelong learning.
No entanto, alguns estudos sugerem que a criatividade, em geral, bastante presente na infância, diminui na adolescência. Os resultados da oitava edição do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, o PISA 2022, apontaram que os jovens de 15 anos tendem a se sentir menos criativos do que as crianças de 10 anos.
“Embora as crianças nasçam com muita criatividade, sempre dispostas a aprender, desaprender e reaprender, a escola muitas vezes reforça a conformidade e recompensa os alunos por reproduzirem o conhecimento estabelecido dos nossos tempos, em vez de o questionarem”, explicou Andreas Schleicher, coordenador do exame. Por esse motivo, as instituições de ensino precisam incentivar os alunos a pensarem criativamente.
Dicas práticas para estimular a criatividade na escola
O relatório do PISA também apontou que o interesse e a motivação das crianças influenciam no desenvolvimento do pensamento criativo. O prazer relatado pelos alunos em aprender coisas novas demonstrou estar fortemente associado à performance da criatividade.
Para estimular a criatividade nos estudantes, algumas técnicas e abordagens podem ser aplicadas, como:
Brincadeiras livres
Os professores podem separar um tempo da aula para incentivar o brincar livre, sem regras rígidas, permitindo que as crianças usem a imaginação para criar suas próprias histórias e jogos.
Aprendizagem Baseada em Projetos (ABP)
O Project Based Learning (PBL) é uma abordagem educacional que consiste em apresentar um problema da vida real para a turma, que deve trabalhar em conjunto para pensar em soluções. Essa prática estimula a inovação, a imaginação, o pensamento crítico, a cooperação e a criatividade.
Trabalhos em grupo
Projetos coletivos promovem o compartilhamento de ideias e a colaboração. A criação de uma história em conjunto, a montagem de um mural ou o uso da aprendizagem entre pares, em que os alunos ensinam conteúdos que já dominaram para os colegas que ainda precisam compreendê-los, são alguns exemplos.
Perguntas abertas
Em vez de fornecer respostas prontas, é interessante fazer perguntas abertas para estimular o pensamento criativo das crianças. Por exemplo, “O que você acha que aconteceria se…?” ou “Como você resolveria isso de outra forma?”. Essa abordagem também estimula a curiosidade, que é um componente fundamental para a criatividade.
Atividades artísticas
Ainda que o pensamento criativo não esteja relacionado apenas à arte, ela pode ser um meio para desenvolvê-lo. Atividades como dança, teatro, pintura, artesanato e criação de músicas ajudam as crianças a se expressarem de maneiras não-verbais e a explorarem novas formas de criatividade.
Como preparar um ambiente que promove a criatividade?
Preparar um ambiente escolar que promove a criatividade requer considerar o espaço físico. Móveis que possam ser facilmente rearranjados para diferentes atividades permitem que as crianças tenham protagonismo para escolher como usar o espaço. Áreas específicas para diferentes tipos de exercícios podem incentivar as atividades criativas, como um cantinho de leitura, uma área de pintura ou um espaço para a construção de novos objetos.
Também é importante disponibilizar materiais diversificados, como papéis, tintas, materiais recicláveis, instrumentos musicais e elementos naturais, como terra, pedrinhas e folhas, para as crianças os explorarem livremente. Outra dica é incluir recursos que estimulam diferentes sentidos, como tecidos com texturas variadas, objetos que produzem sons e elementos visuais coloridos.
Além disso, o apoio emocional é fundamental nesse processo. As crianças precisam se sentir confortáveis para expressar suas ideias sem medo de julgamento, tanto dos educadores quanto dos demais colegas. Também é importante respeitar o ritmo de cada aluno, permitindo que eles tenham seu próprio modo e tempo para explorar novas ideias.
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