Crescendo com emoções no ambiente escolar

Uma pesquisa realizada pelo instituto Datafolha concluiu que 34% dos estudantes passaram a enfrentar dificuldades em controlar suas emoções após a pandemia. Com a volta das aulas presenciais em escolas estaduais de São Paulo, por exemplo, houve um aumento de agressões físicas, crises de ansiedade e falta de concentração nos alunos.

Fabiana Santana, assessora pedagógica do Programa Líder em Mim, retoma o pensamento do filósofo francês Henry Wallon para falar sobre os problemas emocionais enfrentados pelas crianças em idade escolar. Os estudos de Wallon mostram que o meio pode interferir positiva ou negativamente nos processos de aquisição da aprendizagem e permitir o desenvolvimento de seu potencial humano herdado geneticamente.

Por isso, ela diz que emoções básicas como alegria, medo, raiva, surpresa ou aversão são estimuladas a partir de experiências externas ao indivíduo, que os compartilha com membros de um grupo do qual esteja inserido. A instituição de ensino é um espaço de compartilhamento de emoções, sejam elas positivas ou desfavoráveis. “Muitos déficits de aprendizado podem estar atrelados ao fato de a escola visar apenas o processo cognitivo da aprendizagem, sem ter um olhar para os fatores emocionais que a favorecem”, afirma.

De acordo com a especialista, a escola torna-se um agente de transformação e promoção de um ensino-aprendizagem eficaz quando dá visibilidade ao aluno. Isso pode ser feito ao se ter o cuidado de chamá-lo pelo nome ou propor atividades que deem oportunidade para que ele se expresse do ponto de vista afetivo. “Quando a criança se sente reconhecida e respeitada quanto às suas diferenças, pode-se dizer que de fato está acontecendo sua integração ao processo ensino-aprendizagem”, comenta.

Habilidades socioemocionais na infância

De acordo com a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) e o Casel (Collaborative for Academic, Social and Emotional Learning), as competências socioemocionais podem ser ensinadas e aprendidas desde a infância.

Entre as principais habilidades socioemocionais importantes para essa fase do desenvolvimento humano, a assessora pedagógica cita:

  • Autoconhecimento (gestão de sentimentos): reconhecer as próprias emoções e pensamentos e perceber como isso influencia em seu comportamento;
  • Autorregulação: regular as próprias emoções, pensamentos e comportamentos em diversas situações;
  • Tomada de Decisões Responsáveis: fazer escolhas construtivas sobre comportamentos pessoais e interações sociais baseadas em padrões éticos e normas sociais;
  • Habilidades de Relacionamento: estabelecer e manter relacionamentos saudáveis com diversos indivíduos e grupos;
  • Consciência Social: assumir a perspectiva do outro e demonstrar empatia, incluindo aqueles de diversas origens e culturas.

O papel da escola

“A escola é um dos ambientes em que crianças e adolescentes passam um tempo considerável do seu dia”, reforça Fabiana. “Ela deve ser um ambiente acolhedor”. A especialista afirma que quando a relação entre o aluno, a equipe escolar e o ambiente estão alinhados em direção a um mesmo propósito, há uma propensão ao desenvolvimento de uma educação socioemocional bem-sucedida. Ela aponta algumas práticas que auxiliam nisso:

  • Rodas de conversa: os estudantes têm a oportunidade de compartilhar emoções, sonhos e dificuldades, trocar experiências, opiniões e pensamentos, exercitar o diálogo e o respeito e conhecer outros pontos de vista sobre um mesmo assunto. O professor tem o papel fundamental de mediar essas trocas e cuidar para que todos, ao seu tempo, possam se expressar, bem como monitorar e fazer possíveis intervenções.
  • Sala de aula invertida: os alunos são incentivados a ter um contato prévio com o conceito que será trabalhado em aula, podendo se aprofundar no assunto e trazer para a sala de aula sua colaboração na construção coletiva daquela aprendizagem. Pode parecer mais desafiador em séries que envolvem crianças menores, mas o trabalho com os familiares nesse momento fortalece o vínculo entre o estudante, a família e a escola.
  • Aprendizagem baseada em problemas: desde a primeira infância, pode ser incentivada a troca de opiniões por meio de discussões que estimulam a fala e a escuta empática, visando uma resolução que melhor atenda um problema proposto. Pensar em metodologias ativas para o aprimoramento de habilidades socioemocionais é incentivar autonomia, colaboração e proatividade, em busca do exercício da comunicação, autogestão e resolução de problemas.

Arte e o socioemocional

Um estudo publicado pelo Brazilian Journal of Development demonstrou uma relação entre o uso da arte na educação e o desenvolvimento humano na comunicação, expressão e aprendizado. “Por meio da arte é possível comunicar, explorar culturas antigas, atuais e de outros continentes, ampliando horizontes e possibilitando aprendizagens efetivas na construção de um ser humano mais completo e consciente”, enuncia a autora.

Fabiana Santana concorda que as atividades artísticas são aliadas das crianças na expressão de sentimentos e emoções. De acordo com ela, a arte atua diretamente nas formas de representar a linguagem através da comunicação não verbal, como gestos, desenhos, pinturas, música, danças e jogos teatrais, que atendem a compreensão da realidade à sua volta e atingem uma eficiência comunicacional que a linguagem verbal, por exemplo, pode ainda não privilegiar, seja por um vocabulário que ainda está em desenvolvimento, ou por questões de difícil verbalização para a faixa etária.

“É preciso considerar que as crianças têm um processo de apreensão do mundo bastante diferenciado dos adultos, e essas outras formas de comunicação auxiliam na compreensão e ressignificação da realidade a sua volta”, diz a assessora.

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