É importante que eles sejam modelos de comportamento e se comuniquem bem, e que a rotina tenha flexibilidade e seja definida com a participação das crianças
Crianças e adolescentes precisam de previsibilidade, de combinados eficazes e de serem agentes do seu próprio aprendizado. Para tanto, a inserção de uma rotina adequada de acordo com cada faixa etária se mostra extremamente eficaz. “Saber o que vai acontecer no seu dia a dia, quais são as grandes questões daquela semana, e aprender a se organizar e gerir o seu próprio tempo ensinam responsabilidade, autonomia e segurança aos jovens, além de melhorarem a autoestima”, afirma Camila Pascui, assessora pedagógica do Programa Líder em Mim.
Segundo ela, o primeiro grande passo para desenvolver essa organização e esses hábitos nas crianças é os pais serem modelo. “Aprender primeiro e ensinar depois, porque não adianta querer cobrar algo do filho ou filha que ele ou ela não vê aplicado no dia a dia dos adultos que os cercam.”
A assessora lembra que desenvolver um hábito é um grande desafio para a atual geração, acostumada com inconstância, imediatismo e ansiedade. “Neste mundo volátil e incerto da atualidade, oferecer para nossas crianças um ambiente saudável e de confiança permite que ela cresça e se desenvolva de uma maneira mais equilibrada.”
Nesse sentido, a educação socioemocional aponta para a importância de saber lidar com os desafios, imprevistos e dificuldades do cotidiano para termos uma vida mais harmônica. “Para que as crianças e os adolescentes possam experimentar esses desafios, precisamos de ações intencionais para tornar nossas casas e escolas um ambiente seguro. Dessa forma, eles vão passar pelos dilemas de cada fase da vida, se percebendo como protagonistas no processo, não só vulneráveis a eles, capazes de percebê-los e agindo adequadamente frente a cada um”, acrescenta Fabiana Santana, também assessora pedagógica do Programa Líder em Mim.
Rotina como facilitadora
Quando se fala em rotina, é importante destacar que la não deve ser “engessada”, chata ou maçante, mas sim uma facilitadora da organização das atividades da família, da escola e do próprio indivíduo, que permita o equilíbrio entre tantas demandas que fazem parte do cotidiano. Desta forma, garante-se que o mais importante seja realizado.
Principalmente para as crianças, Camila orienta que a organização da rotina tenha elementos visuais para facilitar o entendimento e seja feita por meio de combinados. “Quando algo é imposto, o nosso cérebro automaticamente tende a resistir, mas quando compartilhamos as decisões, nossa mente entende a importância daquilo que será feito”, justifica. Outro ponto importante, de acordo com ela, é a flexibilidade desse planejamento, considerando momentos de “ócio” e o surgimento de imprevistos.
Uso de telas
Entre os hábitos saudáveis que os pais e responsáveis podem auxiliar as crianças e os adolescentes desenvolverem na rotina, um deles é bem representativo da realidade atual: como reduzir o tempo de tela. As crianças de hoje são nativas digitais, ou seja, já nasceram em meio à tecnologia, sendo expostas, cada vez mais cedo, ao mundo digital, muitas vezes sem a supervisão adequada de um adulto e sem limites de tempo nas telas. Como consequência, estão sujeitas a uma série de problemas que afetam a saúde física e mental, como falta de condicionamento físico, obesidade, ansiedade, depressão, insegurança, etc.
Camila defende que o caminho não é a proibição, mas a definição de um tempo adequado na rotina, de acordo com a faixa etária da criança ou adolescente, para que o uso não seja indiscriminado, e uma conversa franca no ambiente escolar e familiar sobre os benefícios e malefícios. “É importante ensinar os jovens a usarem as telas como recurso de proatividade, desenvolvimento pessoal e lazer adequado, mas também é preciso abordar temas como cyberbullying, assédio e conteúdos inapropriados.”
Divisão das tarefas domésticas
Incluir na rotina do filho(a) a participação mais efetiva na realização das tarefas domésticas é outra demanda de muitas famílias. Para Camila, ao permitir que as crianças vivenciem essas tarefas, desenvolvemos nelas um senso de conexão e pertencimento, além de responsabilidade e organização. “Ensiná-los a compartilhar as responsabilidades com a casa possibilita que eles se descubram capazes de resolver problemas e de cuidar do seu espaço, além de trabalhar a ansiedade, já que as coisas não se resolvem de modo imediato.”
Fabiana comenta que, no Líder em Mim, os estudantes são estimulados a desenvolver e aprimorar 16 competências socioemocionais à medida que aplicam e internalizam os conteúdos estruturados do currículo de liderança, combinados à implementação do programa na escola. Essas competências levam os estudantes a uma jornada de liderança que passa pelos seguintes estágios da maturidade:
- da dependência para a independência – Eficácia pessoal e eficácia interpessoal;
- da independência para a interdependência – Liderar a si mesmo;
- da interdependência para a faculdade, carreira e preparação para a vida adulta – Liderar os outros e inspirá-los a encontrar grandeza e potencial em si mesmos.
Camila pontua que tão importante quanto a previsibilidade que uma rotina proporciona é a forma clara, respeitosa e eficaz como a comunicação se dá. “Muitas vezes, as crianças entendem as coisas de forma literal. Saber se comunicar com elas é fundamental para que todo esse processo aconteça. Não adianta inserir uma rotina de qualidade se a comunicação gera ruídos e a criança não entende o que é esperado dela.”