Ao trabalharem não só conceitos e procedimentos, mas também atitudes, elas incentivam a colaboração entre os alunos, a resolução de problemas e a autorregulação emocional
As metodologias ativas são abordagens educacionais que dão protagonismo aos alunos, colocando-os no centro do processo de aprendizagem. Elas ganharam força na década de 1980, como uma alternativa ao método expositivo tradicional, buscando estimular a autonomia dos estudantes e conferindo mais sentido ao processo de produção do conhecimento.
Fabiana Santana, assessora pedagógica do Líder em Mim, explica que essa abordagem também leva os alunos a assumirem uma postura ativa e crítica, permite a aplicação da aprendizagem em situações reais do dia a dia e desenvolve competências socioemocionais. “São valorizados os processos interativos entre estudante-estudante, estudante-professor e estudante-conhecimento. Assim, eleva-se o desenvolvimento da capacidade crítica e reflexiva dos estudantes.”
Competências socioemocionais e BNCC
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que determina as aprendizagens essenciais que os estudantes devem ter durante a Educação Básica, apresenta, em suas competências gerais, seis habilidades de caráter socioemocional previstas para o currículo das escolas e contempladas no Programa Líder em Mim: comunicação, autoconhecimento, projeto de vida, empatia, argumentação e responsabilidade.
A seguir, veja como as metodologias ativas ajudam a desenvolver essas competências nos estudantes, contribuindo para a sua formação integral, com exemplos de atividades práticas em sala de aula.
Comunicação
As propostas de educação centrada no estudante costumam sugerir atividades em grupo, como debates, apresentações e projetos, o que melhora as habilidades de comunicação verbal e não verbal. Além disso, a própria interação com o professor, menos hierarquizada, permite que os alunos assumam papéis ativos e expressem suas próprias ideias.
Para auxiliar nesse desenvolvimento, os professores podem propor exercícios que ilustram e exemplificam algumas regras na comunicação. Para as crianças mais novas, por exemplo, é possível fazer uma roda com os alunos e trazer um “bastão de fala”, no qual apenas os estudantes que estiverem como ele na mão podem falar. Essa atividade ensina que cada pessoa tem seu momento para expor suas ideias e que não se deve atropelar o raciocínio do outro.
Autoconhecimento e autocuidado
Ao tornarem-se mais ativos nas atividades feitas na escola, os estudantes reconhecem mais características de si mesmos e aprendem a lidar com suas emoções e sentimentos. Os educadores podem facilitar esse processo ao promoverem reflexões no final de cada aula, importantes para rever esses comportamentos.
Essas observações devem envolver orientações de como melhorar a convivência entre os colegas e promover a empatia, o respeito e a colaboração. Os alunos precisam ser instruídos a cuidar de todas as suas dimensões: física, intelectual, social e emocional.
A escola também deve, por exemplo, ensinar métodos de organização e planejamento de estudos. Os professores também podem incentivar os alunos a manterem um diário pessoal ou um blog, para desenvolver o autoconhecimento.
Trabalho e projeto de vida
Para o desenvolvimento dessa competência, pode ser elaborada uma colagem de “desejos” e “necessidades” com os alunos. Eles podem recortar figuras que representem seus desejos, como brinquedos, uma viagem ou a profissão dos sonhos. Depois, podem ser instruídos a pensar de que forma conseguiriam suprir esses desejos e atender às necessidades, bem como quais as habilidades que precisariam desenvolver nesse processo.
Além disso, é possível introduzir atividades de educação financeira — por exemplo, a distribuição de um caderno de controle pessoal para descrever os ganhos e os gastos de cada mês.
No caso de crianças mais novas, os educadores podem incentivá-las a pensarem em um único ponto de melhoria. Ele pode estar relacionado à forma de agir com seus colegas, a uma disciplina escolar de dificuldade ou ao aprimoramento de um talento. Essa área a ser desenvolvida torna-se um objetivo em mente, e o exercício em sala pode ser a definição das etapas necessárias para alcançá-lo.
Empatia e cooperação
Trabalhar em projetos colaborativos e dialogar com colegas de diferentes origens e perspectivas culturais promove a empatia, a compreensão, a inclusão e o respeito nos estudantes, além de ajudá-los a se colocarem no lugar dos outros.
Uma sugestão de atividade é a Instrução em Pares, lição do Programa Líder em Mim para o 1º ano do Ensino Fundamental. Os estudantes são orientados a trabalharem em pares, e um dos integrantes deve comunicar emoções, usando apenas expressões faciais para mostrar como é cada sentimento, como alegria, tristeza, raiva, surpresa, decepção e medo. O outro colega precisa descobrir o que seu par está expressando.
Argumentação
Assim como a competência de comunicação, a argumentação demanda interação com os pares e projetos em grupo. Além disso, resolução de problemas em sala de aula desenvolve habilidades como pensamento crítico e criatividade, o que contribui para que os alunos fundamentem suas ideias e argumentos.
Uma parte importante no desenvolvimento dessa competência é o respeito às opiniões alheias. Em discussões e debates em sala de aula, o educador deve ser o mediador e tentar ao máximo fazer com que os alunos consigam chegar a um consenso e resolver o conflito de forma construtiva.
Responsabilidade e cidadania
A autonomia estimulada pelas metodologias ativas permite que os alunos assumam maior responsabilidade por seu aprendizado. Isso os incentiva a considerarem o impacto de suas ações na sociedade, o que também promove o senso de cidadania. Para reforçar essas qualidades, as escolas podem realizar projetos e atividades que envolvem a comunidade local, como doações para campanhas sociais ou ações em defesa do meio ambiente.
Também é importante o professor agir como um modelo para as crianças e adolescentes. Pedir desculpas por algum erro cometido na aula ou na correção de atividades, explicar educadamente as dúvidas que surgirem na turma e manter a postura, mesmo ao chamar atenção dos alunos, são maneiras de atribuir expectativas sobre como eles devem se comportar.
Como o Programa Líder em Mim trabalha com metodologias ativas
Fabiana Santana explica que, no Líder em Mim, todas as aulas são elaboradas para contemplar três momentos:
- Despertar curiosidade: trabalhar o conhecimento prévio do estudante sobre o tema que será abordado naquela aula;
- Investigar: ao pesquisarem, vivenciarem, dramatizarem e trabalharem em equipe, entre outras atividades, os alunos aprofundam o conhecimento sobre o assunto;
- Estimular conexões: os estudantes são convidados a relacionar os conhecimentos adquiridos com a própria vida e, assim, consolidar o aprendizado.
Nesse processo, são desenvolvidas competências como:
- autorregulação, visão e gestão de tempo, ligadas à eficácia pessoal, que dizem respeito ao desenvolvimento do estudante em relação a si mesmo;
- construção de relacionamento, empatia, comunicação e colaboração, ligadas à eficácia interpessoal e ao desenvolvimento do estudante em relação ao outro;
- pensamento de ordem superior, desenvolvimento de pontos fortes, atingimento de metas e melhoria contínua, diretamente associados à relação do estudante com o conhecimento.
A assessora reforça que as metodologias ativas são ferramentas importantes para alcançar o desenvolvimento integral dos estudantes. “Por trabalhar não só conceitos e procedimentos, mas também atitudes, elas potencializam o desenvolvimento das competências socioemocionais”, finaliza.