Períodos de descanso podem melhorar a memória e a atenção, além de estimular a criatividade e a curiosidade, fatores essenciais para a aprendizagem
A produtividade e o desempenho são valores importantes na nossa sociedade e, desde cedo, as crianças são estimuladas a manter uma rotina intensa de estudos, atividades extracurriculares e outras responsabilidades. No entanto, um aspecto crucial, que muitas vezes é negligenciado pelas famílias e escolas, é a importância do ócio e do descanso para a saúde mental e para o desenvolvimento de habilidades, como a criatividade e a curiosidade para aprender.
Segundo o sociólogo italiano Domenico De Masi (1938-2023), criador do conceito de “ócio criativo”, essa concepção inclui três dimensões: trabalho, estudo e lazer. Ou seja, não se trata de “não fazer nada”, mas combinar de modo equilibrado a criação de riqueza (trabalho), a construção de conhecimentos (estudo) e a promoção de bem-estar (lazer). “É pelo trabalho que produzimos riqueza, pelo estudo que produzimos conhecimento e pela diversão que produzimos alegria. Ócio criativo é a união desses três fatores”, sintetizou na obra homônima.
Assim, em casa e no ambiente escolar, as crianças e os adolescentes precisam ter momentos livres na rotina, para que a mente relaxe e se reorganize. Estudos científicos já mostraram que períodos de descanso podem melhorar a memória, a atenção e a capacidade de aprendizado, além de estimular a criatividade. Uma mente descansada é capaz de assimilar novas informações e encontrar soluções para problemas com mais facilidade.
Respiração consciente e “pare e pense”
Camila Pascui, assessora pedagógica do Programa Líder em Mim, reforça que essas pausas são muito importantes para a saúde mental das crianças. Ela destaca a prática de mindfulness, que hoje é uma das mais difundidas por proporcionar autorregulação, autogestão e equilíbrio emocional.
Inúmeras pesquisas apontam os benefícios para quem prática a “respiração consciente” alguns minutos por dia. “Nossa geração, sempre tão acelerada, não aprendeu a pausar, a calar, a respirar e isso nos torna mais ansiosos e reativos. Ensinar às nossas crianças, seja em casa ou na escola, a parar e respirar com consciência, promove uma alteração na química do cérebro que amplia a concentração, o foco e a sensação de bem-estar“, diz Camila.
Parar diante de um estímulo e pensar na resposta que se quer dar é o que propõe a ferramenta de liderança chamada “Gráfico do Pare e Pense” do Líder em Mim. Fabiana Santana, assessora pedagógica do programa, conta que o recurso ensina os estudantes a pararem e pensarem, com base em seus valores e princípios, prevendo de maneira consciente as consequências daquela ação.
Ela explica que o Dr. Stephen R. Covey ensina, em seu livro “Os 7 hábitos das pessoas altamente eficazes”, que embasa o Programa Líder em Mim, que é nessa pausa entre o estímulo e a resposta que se encontra a nossa liberdade de escolha. “Ela abrange os dons que nos tornam humanos, como autoconsciência, imaginação, consciência e vontade independente. Os estudantes e a equipe escolar têm a oportunidade de aprender sobre esses dons, para que proativamente construam o que chamamos de “seu clima” para responder de maneira consciente aos estímulos diários aos quais serão expostos.”
Descanso, saúde mental e aprendizagem
Veja, a seguir, como as escolas podem ajudar os estudantes a entenderem a importância do descanso e o incorporarem no dia a dia:
- Cronograma equilibrado de estudos: os professores podem dar orientações para ajudar os alunos a organizarem o tempo de estudo em casa, dividindo o período com outros compromissos e atividades e incluindo intervalos regulares para descanso.
- Rotina saudável: vale reafirmar aos estudantes a importância de praticar atividades físicas e ter uma alimentação equilibrada, horas suficientes de sono e momentos com amigos e familiares.
- Foco na saúde mental: oferecer palestras sobre o tema auxilia na conscientização dos alunos, e incluir no horário escolar práticas como yoga e meditação ajudam a acalmar a mente, melhorar a concentração e reduzir o estresse.
- Programas de aprendizagem socioemocional: promovem a mudança comportamental por meio do desenvolvimento de competências, como criatividade, equilíbrio emocional, autocuidado, autorregulação e autogestão.
Dar sugestões de hobbies e do que fazer no tempo livre também é papel das instituições de ensino. Aulas de culinária, artesanato, esportes e artes são algumas ideias para ajudar os estudantes a descobrirem seus talentos e as atividades que lhes trazem prazer e relaxamento. Sobre isso, o próprio Domenico De Masi comenta em sua obra que o ócio requer uma escolha atenta por parte dos indivíduos. “Educar para o ócio significa ensinar a escolher um filme, peça de teatro, um livro.”
Além disso, a inserção de espaços de descanso e convivência nas escolas, como áreas verdes e salas para essa finalidade, proporciona um ambiente mais acolhedor e que promove o bem-estar dos estudantes. O conjunto dessas ações cria uma cultura escolar que valoriza o equilíbrio entre estudo e descanso, essencial para o desenvolvimento integral dos alunos.